" entre páginas e palavras, mergulhei em meio a imensidão de um mundo surrealista. Abandonei minha mente no tom alvo daquelas páginas. Esqueci de um mundo que não merecia lugar entre minhas recordações. Beberiquei minha xícara de café, saboreando-o como nunca havia feito outrora. Era como o sabor do livro, era o sabor do cappuccino, era o paladar que salpicava minha mente delirante e desequilibrada, fixada na companhia solitária que só uma leitura proporciona."

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Mademoiselle






Uma vidraça. Era o que desagregava-me  de todo um mundo lá fora. Por sua transparência, eu era capaz de ver minha Londres, suave, quieta, cotidiana. Restos de jornais, que antes bailavam à brisa tardia, agora repousavam sob gotas grossas de chuva, assim como todo o resto da cidade.
   E ali estava eu, com a testa arrimada na vidraça, mirando cada gota que escorria do alto para o solo. Meu coração batia nostálgico, sem porem deixar-me compreender a quê exatamente ele referia-se. Ainda sim, senti uma súbita vontade de estar lá. Não na rua ou na calçada, ou na incógnita lembrança que chicoteava-me as artérias, mas nas gotas que escorriam puras e imponentes céu à baixo.
   Minha mente divagou, e vi naquilo uma serie de questionamentos indômitos – dos quais não fazia idéia da existência de muitos - buscando respostas indubitáveis.
   Quase fui capaz de sorrir.
   Seria eu, amante poética de tudo o que é belo, incapaz de encontrar beleza em meu interno?  E se fosse encontrado, seria eu capaz de amar em mim tal beleza? E se tivesse descoberto-a outrora, poderia eu amá-la como nunca, como agora teria de amá-la como sempre?
   Voltei-me para a chuva novamente, sentindo a angustia avolumar-se em meu peito solitário. Se eu fosse como a chuva, que despenca sobre tudo e todos, fazendo aquilo que lhe foi designado e cumprindo assim sua missão, poderia eu, sobre outras coisas, encontrar minha missão e cumpri-la de forma plena? Seria eu capaz de tocar faces e fazê-las sorrir ou chorar com minha mera presença?
   Senti meus olhos marejarem. Sorri novamente, mesmo que a alegria ainda não tivesse tocado-me. Dei por mim que a tristeza era meramente suasória, e era um caminho ao qual não pretendia permitir-me ser levada.
   Voltei-me para a chuva. Algo pingou do meu queixo para o busto, umedecendo meu vestido branco. Agora, gotas escorriam lá fora e gotas escorriam aqui dentro. No final das contas, eu permanecia como uma senhorita solitária.

2 comentários:

  1. Londres, ah, Londres.
    Adorei o texto, você escreve com sentimento sem deixar de lado o cuidado com a estrutura em si. parabéns!

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  2. De verdade, valeu a pena ficar acordado até achar seu blog por acaso! Tenho lido poucos textos com essa qualidade de sentimento e de palavras, e o seu me fez mais do que bem! Parabéns, e continue assim ou melhor!

    Obs.: tive que olhar no dicionário 2X! hahaha

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